terça-feira, 4 de setembro de 2012

Matando a história

Diante de conflitos cada vez mais sangrentos, a destruição de sítios arqueológicos milenares parece ser algo secundário na Síria. Mas pesquisadores alertam para o perigo de extermínio de testemunhos da civilização. Embora se encontre em seu escritório na Universidade Livre de Berlim, o pesquisador alemão Dominik Bonatz, diretor do Instituto de Arqueologia da Ásia e do Oriente Médio, preferiria estar agora em Tell Fecheriye, no nordeste da Síria, à fronteira com a Turquia.Com sua equipe de 60 pessoas, Bonatz passou cinco verões pesquisando num dos maiores e mais importantes sítios arqueológicos da região. Desde 2011, no entanto, tornou-se perigoso demais para o grupo de especialistas permanecer na Síria, e eles tiveram que retornar à Alemanha. Na Idade do Bronze, ou seja, entre 1500 e 1100 a.C., o local era a capital de um reino - cuja identidade os arqueólogos têm tentado descobrir. Além dos escritos, que comprovam a importância central de Tell Fecheriye, os pesquisadores encontraram vestígios de edificações administrativas da cidade, indicando que a localidade pode ter sido a capital, até hoje não identificada, do Império de Mittani."Estávamos à beira de descobrir o palácio real", diz Bonatz, que agora teme o pior. "Alguns dos sítios arqueológicos nas imediações de regiões de combates, como Tell Afis ou Palmyra (na foto), foram destruídos e saqueados. Até o início da guerra, cinco institutos arqueológicos de universidades alemãs realizavam pesquisas na Síria. O Instituto Arqueológico Alemão (DAI, na sigla original), que mantém há 30 anos uma dependência em Damasco, teve que suspender suas pesquisas de campo.Os prognósticos de Meyer, da Universidade de Frankfurt, também são sombrios. Ele não crê num fim da violência naquele Estado árabe. "Não vejo uma solução pacífica para o país. Mesmo a constituição de um novo governo não traria a paz imediata", observa. Outros arqueólogos, conta, já abandonaram a ideia de trabalhar na Síria e foram em busca de novos projetos. "Ainda estou em compasso de espera", diz Bonatz. Pelo menos de Tell Feheriye ele não quer, de forma alguma, abdicar.

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