quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Banalidade do Mal

Depois de levar às telas Rosa Luxemburg e Hildegard von Bingen, cineasta Margarethe von Trotta aborda a pensadora judia teuto-americana em sua confrontação com o criminoso nazista Adolf Eichmann. A tese da "banalidade do mal" tornou Hannah Arendt famosa. A filósofa judia nascida na Alemanha abandonou o país em 1933, devido ao avanço do antissemitismo. Como repórter, ela viajou em 1961 a Jerusalém, para assistir ao processo contra o nazista Adolf Eichmann. Na posição de obersturmbannführer (equivalente a tenente-coronel) da SS – organização policial-militar do partido nazista – ele organizara a expulsão, deportação e extermínio dos judeus europeus. O ainda jovem Estado de Israel o sequestrara para fora da Argentina, numa operação espetacular. Como a maioria dos espectadores, Arendt esperava encontrar no tribunal um monstro humano, através do qual o mal se manifestava. No entanto, ela se deparou com um burocrata, um criminoso de escrivaninha, cuja banalidade a surpreendeu. As reportagens que escreveu da sala do tribunal foram objetivas, frias e perturbadoras. Os críticos a acusaram de indiretamente fazer das vítimas corresponsáveis ao dizer que teriam se comportado de maneira excessivamente passiva ou até cooperativa.

Na "desdemonização" de Eichmann feita por Arendt, muitos observadores viram uma minimização da periculosidade do réu. Na verdade, ela argumentava como a filósofa, a pensadora que foi durante toda a vida.Seu modo de ver o mundo gerou controvérsia, fazendo com que até mesmo amigos e companheiros se afastassem dela. É justamente essa controvérsia que compõe o núcleo do filme Hannah Arendt, de 2012. A cineasta Margarethe von Trotta criou uma obra sensata e equilibrada. A atriz Barbara Sukowa incorpora o papel principal com alto grau de concentração. A era do pós-guerra e o clima entre imigrantes alemães e judeus em Nova York são capturados com precisão.Duas decisões artísticas de Von Trotta tornam o filme especialmente consistente. A atriz Barbara Sukowa fala inglês diversas vezes, com forte sotaque alemão, como fazia Arendt. Curioso é que a alemã vive há mais de 20 anos em Nova York e teve que treinar esse sotaque. Essa opção consciente pelo bilinguismo é vantajosa para o retrato cinematográfico.A segunda decisão importante foi a de não colocar um ator no papel de Adolf Eichmann, mas sim mostrá-lo exclusivamente em sequências originais da época. Os atores Michael Degen e Barbara Sukowa interpretam o sionista Kurt Blumenfeld e a filósofa Hannah Arendt.

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