terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Carnaval

Quem sou eu para desdenhar daquela que é considerada a maior festa popular do mundo? Eu, apenas um judeuzinho que não gosta de Carnaval.

Assim mesmo, na contramão do gosto popular, da história do meu país e da expectativa de meus melhores amigos, fui crescendo sempre com a imagem daquele inconsequente que, fantasiado e mascarado, com uma bola de soprar nas mãos e um olhar sádico me assustou na esquina da rua Xavier da Silveira com avenida Copacabana, provavelmente no tal Carnaval de 1950, quando eu aos dois anos de idade não tinha como me defender. Fez careta, gritou, bateu com a tal bexiga no carrinho onde eu estava sentado e me jogou definitivamente, do outro lado de todas as festas de Momo, à partir daquela data.

Hoje, o panaca que me assustou está multiplicado. São todos os cagões e mijões que enchem a cara de bebidas alcoólicas e fazem suas necessidades nas ruas, são os caminhões elétricos que colocam seu som a uma altura nociva a qualquer tímpano mediano, são os abusados supostos carentes vendedores de cerveja que teimam em empestear a orla com sua sujeirada ímpar, sem contar os outros vendedores de milho, de coco, de pipoca, de óculos, de brincos, de colares, de pulseiras, de maconha, de crack, de cocaína, de cachimbos, de arte vagabunda, de apetrechos feitos de ossos, de relógios falsificados, de camarão no espeto, de sorvete, de mate, de biscoitinho Globo, de cangas coloridas, de empadas, de pasteis e de tantas outras bugigangas e porcarias que fazem corar até os peruanos chatos para cacete que se misturam ao caos carioca para nos enfiar pelas orelhas já saturadas, aquela música deprimente que lhes sai das flautas de bambu e cobre, em direção ao nosso quase repleto saco cheio.

Enfim, este é o nosso Rio do Carnaval.

Espero que para os próximos anos, o carnaval se desenrole na cidade do samba e não na orla da cidade maravilhosa, infernizando e tiranizando os pagadores das mais relevantes taxas de IPTU do Brasil.

Enquanto isso não acontece, vou pular meu carnaval debaixo de minhas cobertas para que nenhum vagabundo possa assustar a criança que ainda reside dentro da minha alma.

Futebol sempre, carnaval jamais!

Ronaldo Gomlevsky

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