quinta-feira, 6 de março de 2014

A fortaleza de contos de fadas

Estampado em cartões-postais, guias de viagem e até em produtos da Disney, o "castelo do rei de contos de fadas" atrai mais de 1 milhão de visitantes por ano. Seu idealizador, o rei Ludwig 2º da Baviera, foi declarado louco, antes de sua misteriosa morte por afogamento, em 1886. Semanas depois, Neuschwanstein abriu as portas ao público, e permanece até hoje uma das principais atrações turísticas na Alemanha. A fortaleza de contos de fadas, porém, abriga um passado nazista que veio à luz recentemente com o filme Caçadores de obras-primas (Monuments men), dirigido por George Clooney. O drama da Segunda Guerra Mundial trata das tropas aliadas especiais encarregadas de proteger e localizar, durante o conflito, os tesouros roubados da Europa. O excêntrico rei Ludwig 2º não concebeu o extravagante castelo de Neuschwanstein para fins de realeza, mas sim como refúgio à vida pública. Numa distorção perversa das intenções do monarca, foi exatamente isso que os nazistas fizeram com a arte roubada de suas vítimas, escondendo-a lá do olhar público. "Neuschwanstein foi escolhido como quartel-general da Einsatzstab Reichsleiter Rosenberg, a organização alemã para saques de obras de arte", revela a historiadora Tanja Bernsau. A localização no estado da Baviera, perto da fronteira com a Áustria e distante de Berlim ou de outros possíveis alvos, fazia do castelo um depósito ideal. Embora tenha sido construído para parecer uma construção medieval, a joia arquitetônica ostentava as tecnologias mais avançadas de seu tempo: aquecimento central, descargas nos banheiros e um sistema elétrico de campainha para chamar os serviçais. A pedra angular foi lançada em 1868, mas o projeto não foi finalizado, deixando, assim, amplo espaço para armazenamento. A identificação e restituição das obras continuam na Alemanha até hoje. Descobertas recentes de arte possivelmente roubada, como a relacionada ao colecionador Cornelius Gurlitt, continuam a ser manchetes de jornal. O filme Caçadores de obras-primas, recém-exibido no festival Berlinale, também lança luz sobre o trabalho dos responsáveis em preservar a arte durante a guerra, embora não agrade a todos. Quem procura detalhes da história, tampouco vai aprender mais visitando Neuschwanstein. A visita guiada pelo castelo inclui o luxuoso quarto de dormir do rei Ludwig 2º, a caverna artificial de estalactites e a cozinha, bem moderna para sua época. Porém não há nenhuma menção ao papel do local durante o nazismo. "Não estamos tentando esconder esse fato", defende o porta-voz do castelo, Thomas Rainer. A administração quer se confrontar com o papel do local nesse sombrio capítulo da história alemã. O diretor do departamento de Palácios e Museus da Baviera escreveu recentemente um artigo sobre locais de resgate da arte durante a Segunda Guerra, ressalta Rainer. "Mas nós temos mais de 1 milhão de visitantes por ano e visitas guiadas que só duram 30 minutos. Nós focamos o que é possível, nesse tempo."

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