quinta-feira, 6 de março de 2014

Minha primeira Copa

Ela está chegando. Não, não é nenhuma mulher gostosa. Nenhuma cerveja da moda. Nenhuma novela nova. Nenhuma marca de sutiã ou de cuecas não conhecida.

Faltam menos de cem dias para a grande Copa do Mundo do Brasil. Já sei que há os que irão me escrever ofendidos, vez que falta tudo nos hospitais públicos, vez que professores, médicos e garis ganham abaixo da crítica, vez que a divisão de rendas no Brasil é vergonhosa e cada dia os ricos ficam mais ricos e os pobres, mais pobres. Há os que vão me escrever afirmando que Delúbio, Genoino e Dirceu são quadrilheiros sim senhor, que Roberto Jeferson, aquele que apontou o dedo sujo de meleca para os outros e queimou o próprio rabo, deve ser preso na Papuda, e coisa e tal. De tudo isso eu sei. Escrevo sobre uma porção de porcarias, o tempo todo. Todas as semanas, a cada terça-feira, ataco um monte. Seja no interior do Brasil, no mundo, ou no pequeno, humilde e acanhado planeta da comunidade judaica do Rio de Janeiro.

Chega!!!

Hoje, vou escrever sobre Copa do Mundo. Sobre a Copa em que iremos vencer mais uma vez e traremos o caneco de volta com a conquista do hexa!

Sou Felipão desde pequenininho e aprecio seus métodos. Meus amigos rubro-negros detestam. Para mim, este é o único brasileiro que no momento tem competência para formar seleção brasileira e trazer o caneco com a segunda família Scolari. Estou dentro.

Fico pensando como começou minha paixão pela seleção brasileira de futebol. Volto 56 anos no tempo e me vejo na Rua Leopoldo Miguez em Copacabana, onde eu morava, na casa dos meus vizinhos, ouvindo a final daquela Copa de 1958. A minha primeira Copa. A voz do Oduvaldo Cozzi ia e voltava, seguindo as ondas da transmissão que mais parecia algo que chegava do além e alguns segundos após, se esvanecia. Eles, os caras do primeiro mundo, os suecos, louros e de olhos azuis, fizeram de cara o primeiro gol. Naquele tempo, goal.

Não contavam com Garrincha, com Pelé, com Zagallo, ainda com um ele só, com Zito, Djalma Santos, Nilton Santos, Bellini, Gilmar, Orlando e Vavá. Não contavam com a frieza que vinha da certeza da competência maior e melhor que o negão Didi mostrou ao mundo quando foi em baixo das traves vazadas de Gilmar, agarrou a bolota pelo rabo, caminhou com ela nos braços até o meio do campo e mandou o recado. Só vai dar nós, mundo bão! E assim foi. Uma enxurrada e o Brasil campeão. E como merecemos isso!

Não tinham certeza do que éramos capazes. Nós também não. Afinal, éramos aqueles que, como dizia Nelson Rodrigues, tínhamos alma de cachorro atropelado. Naqueles idos, tudo para nós, além de ser mais difícil, parecia impossível.

Nossos crioulos, índios e cafusos, além de uns dois ou três descendentes de italianos, mostraram ao mundo o que significava ter um Pelé e um Garrincha à disposição. Naquele dia de ventos fortes em junho de 1958, pulei feito um mico de alegria. Sinto saudades e sei que vou matá-las em breve. Na final da próxima Copa, bem aqui do lado, no velho novo Maraca.

Ganhamos pela primeira vez a Copa do Mundo e deixamos de ser capital de Buenos Aires. Viramos um país respeitado. Hoje somos pentacampeões. O hexa vai chegar e falta pouco.

Somos o país das manifestações, da corrupção, dos desmandos, dos desgovernos, da falta de saneamento básico, de hospitais e escolas. Dos vândalos, das favelas, do alto índice de mortalidade infantil, do analfabetismo e das favelas.

Ainda assim, esta Copa do Mundo de 2014 ninguém nos tira.

Basta que nossos atletas não subam no salto alto e que os cartolas não encham o saco. Deixem-nos concentrados que os adversários, independentemente de sua capacitação, cairão um a um como caem as bolas de boliche num strike. Ou ainda, as mangas podres do pé.Quem viver verá. Esta será mais uma vez, a nossa Copa do Mundo. Vai redimir o apagão de 1950. Chega de Maracanazo ! Basta, agora, apenas, darmos mais um pouquinho de tempo ao tempo. 98 dias para começar e cento e dezoito para terminar.

Vai dar Brazil com Z ou com S na cabeça!!!

Novamente vou pular como um mico que ganhou frutas dos bonitões do tal primeiro mundo.

Ronaldo Gomlevsky

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