terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Filhos artistas

Fiquei pensando se deveria escrever sobre meus filhos e resolvi fazê-lo.

Se as primeiras páginas do Globo podem lançar fotos e textos do Bruce e da Yasmin, o Menorah Rapidinhas, não só pode, como deve contar suas histórias recentes.

Bruce que é ator de TV, de cinema e de teatro, já consagrado e premiado há um par de décadas, agora também dirige peças e as produz. Inclusive, é o responsável pela introdução de Yasmin, sua irmã caçula, nos palcos. Numa inusitada, seríssima e emocionante montagem, lança sua irmã de, então dezesseis anos, como a Anne Frank cujo pai não poderia ser outro que Milton Gonçalves. Neste episódio marcante de sua vida profissional, Bruce que produziu o espetáculo, jogou uma inédita cartada filosófica, ao escalar o mais visível ator negro de nossa geração no Brasil para, na pele de um branco judeu perseguido pelo nazismo, fazer dupla com a pequena Yasmin, no papel título.

Bruce Gomlevsky, honrou o sobrenome que carrega ao tentar e conseguir demonstrar, mesmo que subliminarmente que os negros que foram massacrados pelos brancos europeus por mais de quatrocentos anos sendo transportados como escravos de lá para cá, daqui para ali e de acolá para os infernos, têm, sem a menor sombra de dúvidas, um história de sofrimentos que encontra grande paralelo na história judaica e vice-versa.

Quatro meses de casa cheia, no teatro Maison de France, carimbaram o acerto da difícil escolha deste jovem judeu brasileiro que optou por um caminho cheio de espinhos apesar de o estar trilhando com rosas nas mãos, como o fez em RENATO RUSSO, A PEÇA, com sofrimento no coração, como o escritor assassino de O HOMEM TRAVESSEIRO, mas, no fim, sempre, sorriso nos lábios, na pele do próximo médico e do monstro que já já, vai encenar.

Um filho que pouco sabia de jogar futebol mas que muito sabia observar, sempre pronto a defender a sociedade de seus agressores, em pé todas as vezes que era necessário denunciar o abuso do forte contra o fraco, alerta para os excessos que governos e poderosos praticam contra os menos aquinhoados pela sorte e que aos treze anos de idade imitava Louis Armstrong, cantando em praça pública, em eventos comemorativos da comunidade negra, é um alegria constante na vida de quem o colocou no mundo e, de certa forma, educou-o com liberdade e responsabilidade para ser um homem de verdade. Livre, digno, consciente e competente na medida em que ama o que faz. Seu papel em nosso país está sendo escrito com muito suor, algumas lágrimas e uma dose fantástica de talento que lhe foi oferecida pelo divino e que ele está muito bem, sabendo utilizar.

Quem quiser vê-lo de novo, não perca, à partir de quinta-feira, dia dez de janeiro, na comédia O MÉDICO E O MONSTRO, no Teatro Café Pequeno, na Ataulfo de Paiva, 269,no Leblon, RJ, de quinta a domingo, às 20h.

E a Yasmin, minha filhinha caçula. Bateu asas e voou. Ainda bem que voou profissionalmente mas continua meiga, carinhosa, brava quando acha que precisa sê-lo, enfrentando seus medos e seus fantasmas, mas hoje, também em cena, num que é considerado o maior e mais bem montado espetáculo musical já realizado em nossa cidade que está servindo de peça de resistência para a inauguração da monumental praça de atividades artísticas, mais conhecida como Cidade das Artes.

Quando aos onze anos de idade, Yasmin Gomlevsky começou a escrever sua saudosa coluna em Menorah, muita gente "bondosa", "nada" invejosa, que "não" porta olho grande, cansou de me perguntar: é você que escreve os textos que tua filha assina? Quem me conhece, sabe como sou bem educado e imagina a quantos mandei para a ponte que partiu!

A verdade é que a pequerrucha cresceu e exatamente neste momento, está oferecendo seu show como protagonista feminina da peça "Rock In Rio", fantasticamente dirigida por João Falcão, o, premiadíssimo diretor de "Tim Maia" e de tantas outras peças de sucesso. Yasmin foi selecionada para atuar, cantar e dançar dentre mais de seiscentas concorrentes. Aliás, cantar, dançar e atuar é o que ela tem feito, também de sexta a domingo, com maestria, paixão e competência absoluta, nesta função que conta a história do maior festival de música produzido em nosso país com rastros no exterior e comandado pelo também nosso Roberto Medina que vem a ser irmão do nosso Rubens Medina, deputado federal em tantas e profícuas legislaturas e filho de um dos mais marcantes empresários brasileiros, Abraão Medina que inovou na TV e na sociedade brasileiras, com o seu Rei da Voz e tantos e quantos empreendimentos que emocionaram o país.

Enfim, vou ficando por aqui, depois de lamber minhas duas crias, com a certeza absoluta que eu soube muito bem escolher suas mães. Tenho certeza também que os dois puxaram por elas. se fosse por mim, seriam candidatos à presidência do flamengo ou estariam metidos em alguma confusão judaica.

Aos meus dois filhos que estão agora na ribalta, que se lambuzem todos, com a MERDA que nada mais é do que a expressão que deseja boa sorte a quem entra em cena no teatro.

Para mim, já deu.

Beijos aos dois, boa sorte e sucesso!

Ronaldo Gomlevsky

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